“Certa vez, estava eu em meu quarto, arrumando algumas
bagunças. Sentia na verdade, que a bagunça encontrava-se mais aqui dentro, do
que do lado de fora. Arrumação essa, que fui forçada a fazer.
Eu costumava a ser romântica, sabe. Costumava cantarolar por
aí. Escrevia lindas cartas de amor [pra mim mesma], até que eu o encontrei.
Encontrei ‘aquela pessoa’, a dos sonhos. Logo que o vi, tive a certeza, era
ele. Não pude conter o sorriso, o brilho nos olhos, não pude evitar sentir
aquela famosa sensação, que jamais havia sentido antes, as borboletas no
estomago. Pude ver em seu olhar, que ele também queria alguém. Alguém,
obviamente sem muita humildade de minha parte, mas tinha certeza que era alguém
como eu. Eu o queria. Não conhecia, nem sabia seu nome... Mas, tão certo quanto
respiro. Eu o queria.E nos dias que se seguiram, fui escrevendo tudo aquilo que
um dia, iria falar-lhe frente a frente. As palavras mais lindas que conseguia
encontrar. Tentei de todas as formas possíveis, dizer o que, eu realmente
queria dizer. Não havia pudor, reticencias, aspas em minhas palavras. Era tudo
muito claro e explicado. Não poderia haver complicações, trechos subtendidos.
Era só ele ler, que iria entender todo meu sentimento. E a reciprocidade seria
inevitável. Fazia tempo que eu não tinha uma real inspiração, na verdade, nunca
houvera uma real inspiração para minhas palavras de amor, não havia amor em
meus dias... Apesar de eu ser a garota mais romântica que conhecia. Mas então, quando acordei do meu lindo sonho de amor.
Infelizmente ele era real. Real demais, lindo e perfeito demais que não havia
lugar para as minhas imperfeições. Ele já tinha um grande amor.
Está aí a razão de eu estar arrumando essa bagunça, um
quarto imenso cheio de cartas de amor. O pior nem é isso. Apenas lamento por
nunca fazer com que ele soubesse do que estava aqui dentro.”
Laryssa Bernades